O projeto dessa reforma nasce,curiosamente, da premissa da obra do arquiteto: o convívio. Esta casa, bem como a obra de Vilanova Artigas, tem uma relação direta com a cidade e foi essa própria relação que me possibilitou conhecer a moradora e de uma conversa informal misturado com uma admiração muito grande de minha parte nasce esse desenho, que como bem disse o morador, é um epílogo a obra do mestre.
De minha parte abre mão de qualquer barroquismo, qualquer vaidade e fico no cantinho do meu escritório pensando em como viabilizar essa reforma, como atender os pedidos dos moradores e como adequa-los a uma obra do Artigas, escrevo esse memorial de uma maneira muito mais afetiva, até como um diário de projeto, acho simpático poder conversar com o leitor (confesso ser grande admirador tambem do Machado de Assis, em especial do Memórias Póstumas de Brás Cubas) de modo que separo os memoriáis: esse trato de forma afetiva e o outro de forma direta.
Após o primeiro encontro com a casa só consigo pensar nesse projeto, pesquiso, vejo livros, leio a obra do Artigas quando a resposta dos clientes é positiva eu mal posso me conter a começar o desenho, vejo em minha prancheta muitas folhas em branco que esperam anciosamente para serem preenchidas e o projeto original, lindo, azul, com as anotações, os mistérios da obra, sendo honesto com o leitor desse e sem menosprezar os outros projetos que já passaram por aqui, esse é o projeto mais legal que eu já fiz.
A questão passa a ser outra: Como fazer?
Os moradores me trazem premissas básicas: no pavimento térreo; o portão é vazado o que gera uma falta de privacidade, falta um pouco de espaço na cozinha e ela é quente demais , o jardim lateral está subutlizado e não há integração entre o dentro e fora, o corredor lateral acumula bagunça e falta espaço de armazenamento, alguns caixilhos necessitam reparos e precisa melhorar a ventilação na residência; a cobertura apresenta uma vista incrivelmente bonita, no entanto falta o acesso de modo que esta vista fica privada aos que raramente sobem; o pavimento inferior sofre com um problema de ventilação no banheiro, os armários dos quartos precisam de melhorias bem como seu fechamento para a área externa que é justamente onde o problema maior se encontra. Pela alteração que o projeto original sofreu a lavanderia foi deslocada para o pavimento inferior, mas esse o projeto desse anexo não condiz com a obra, ele precisa de uma reforma imediata e falta um quarto de hospedes que tem uma configuração multipla: ora sendo quarto ora sendo espaço de lazer.
A problematização já está ai, resta saber como resolver. É uma residência da década de 60 e pra ajudar projeto do Artigas, acredito que tudo que for posto nessa casa tem que fazer um contraponto a obra que já existe, leio na obra de Niemeyer quando comenta sobre o hotel de Ouro Preto que " a técnica de defender os monumentos não é copiar, é fazer o contraste". E foi isso que busco fazer nessa obra, resolvendo por etapas busco para a fachada da rua algum tipo de fechamento que ainda permita um pouco a visão mas que seja moderno, simples e barato, imagino que a melhor solução seja usar chapas perfuradas metálicas na fachada dando a ela uma unidade, do portão para dentro o partido desse projeto é o convívio, busco trazer o jardim que no passado existiu e criar para o morador ou visitante um promenade architecturale, penso que seria lindo o fato de poder acessar a casa vendo ela de um lado e de outro a cidade e apenas um jardim nos separando; a cozinha é a área que precisa da maior reforma, que busco fazer da maneira mais simples possível: um lavabo mais próximo da área de estar e a cozinha ocupando uma área bem maior que a atual, já que existe uma clarabóia procuro acolhe-lá ao invés de nega-lá, imagino que ela pode funcionar como um pátio para a cozinha que dobra em sua volta; na lateral próxima a cozinha, praticamente adjacente, imagino um corredor de serviço, tudo se guarda ali: bicicletas, vassoura, ferramenta, pano de chão, procuro fazer esse espaço de armazenamento com um armário metálico e uma cobertura metálica que não encosta na residência, faço isso, em especial com o material, para mostrar que essa peça é posterior a obra original; na lateral que eu penso ser a lateral de convívio procuro dar o uso que o jardim desenhado pelo Artigas merece, a escada de acesso já existe de um lado porém desenho para ela um guarda corpo e um piso no chão que configura um espaço de estar guardado pela cobertura de concreto, como uma memória nesse texto acho que esse piso deveria ser uma pedra portuguesa preta ou algum ladrilho hidráulico, por uma questão de circulação e de propor o acesso dos dois lados desenho uma outra escada, metálica tambem, no entanto delicada e simples,um guarda corpo fino amarrado na parede, na sequencia desse corredor uma outra escada metálica que dá o acesso a cobertura, desse modo a cobertura passa a fazer parte da área de lazer, tudo passa a ser uma continuidade, o jardim, meio nível abaixo é o lugar do aconchego, a sala está ligada de uma maneira muito próxima ao jardim e essa escada me permite chegar ao céu, a cidade, a um mirante, imagino ver um por do sol daquele ponto, me parece ser uma situação tão agradável que não posso me negar a propor.
No pavimento inferior um novo desafio, a questão dos armários é um pouco mais fácil de resolver, a solução para esse espaço se apresenta no primeiro croqui, uma alterção retilínea e mínima mas que resolve de um maneira bem simples, a dificuldade está lá fora, a lavanderia existe e funciona perfeitamente mas peca na estética que em nada condiz com o projeto, busco a solução mais simples que tambem se aplica ao anexo, duas lajes de concreto cobertas por um filme d´agua com 15cm para proteção da laje e o que ajuda a equilibrar a tempretura dentro.