Colchetes Café nasce a partir da amizade do proprietário com os arquitetos, e das relações que se vão espalhando de maneira espontânea como o espaço assim pedia, tanto na virtuosidade da mão de obra e escolha dos materiais, como oportunidades que o projeto sugeria ao explorar a cidade em suas diversas cotas.
O espaço está localizado na rua Mateus Grou - 162, no pleno movimento de Pinheiros, bairro da capital paulista, seu programa é múltiplo: café, restaurante, bar, espaço para shows e eventos. Tais atividades se dividem pelos seus dois pavimentos num terreno com dimensões de cinco de frente por vinte de fundo.
A questão nessa reforma é como transformar completamente o espaço existente, o que é possível aproveitar dele, o que é necessário ajustar, ocupar uma casa de décadas passadas com um programa completamente diverso é um desafio que a cidade nos traz e de nossa parte, como arquitetos, cabe devolver a cidade o projeto ocupado, intrínseco com a cidade, aproveitando dela em diferentes níveis, de modo que passa a ser o partido do projeto, é necessário que o espaço seja uma extensão da rua, razão pela qual o bar foi posto justo na entrada, pra que possa “amparar as imprevisibilidades da vida”, em suma, o bar te acompanha do café pela manhã ao chope noturno. Como toda boa casa antiga, essa não deixa de ter um pátio, parte fundamental do projeto, e de certa maneira, eixo estruturador; o pavimento térreo vai acomodando mesas, balcão, caixa, espaço de estar, junto ao pátio central, dois banheiros e aos fundos, mas sem perder visão do espaço e da rua, iluminada pelo pátio, a cozinha. O pavimento superior apresenta ao visitante outro ponto de vista, fazendo da varanda um espaço destinado as mesas na altura da copa das árvores, tal como o salão principal livre das paredes que dividiam na casa anteriormente, porém ainda marcados no chão, com um pequeno arremate, para que a memória se faça presente, aos fundos um espaço de estar e dois banheiros, no pátio o acesso a cobertura feito por uma escada metálica. No topo, o escritório, horta, caixa d´água e uma cobertura retrátil para dias de chuva.
Enquanto técnica o projeto precisou apenas de pequenos ajustes, a resolução de uma grande abertura é uma porta basculante no comprimento máximo da fachada, permitindo que o espaço seja permeável, o mesmo desenho de caixilho se aplica a porta da cozinha, varanda e escritório, o palco foi feito em madeira de modo a ajustar a diferença de níveis, a estrutura da casa foi reforçada com pares de vigas metálicas e o telhado com vigas em madeira.
A materialidade é ponto fundamental do espaço que em diversas paredes optou por manter o revestimento, ou a falta dele, objetos, decorações e demais peças vão entrando e saindo, e se movimentando, num espaço que busca sempre a transformação.